Por memórias de Cinema de Rua

Continuo fechado com minhas posições de um cinema terceiro-mundista. Um cinema independente do ponto-de-vista econômico e artístico, que não deixe a criatividade estética desaparecer em nome de uma objetividade comercial e de um imediatismo político.

— Glauber Rocha, diretor

Cinearte Palace

Cinearte Palace, Juiz de Fora, 2017

Glauber Rocha me ensinou que o Cinema Novo tinha potencial para ser um cinema nacional que não fosse puramente comercial. Um lugar de arte, experimentação, transformação e liberdade. Cada diretor com sua visão única, criando um espaço de resistência às fórmulas predeterminadas e óbvias de Hollywood.

No entanto, tornou-se cada vez mais difícil encontrar expressões de vontade semelhantes, especialmente com o crescente domínio das principais produções norte-americanas no Brasil. A experiência cinematográfica foi transformada, deslocando-se para os grandes centros comerciais, e os cinemas populares e as produções locais foram colocadas em segundo plano pelos blockbusters. Apesar disso, alguns locais de encontro com o desconhecido ainda resistem.

Cine Roxy

Cine Roxy, Rio de Janeiro, 2018

Na minha busca por um desses lugares em Passau, pequena cidade na fronteira entre Alemanha e Áustria, tive a sorte de encontrar um cinema de rua exibindo o filme brasileiro Corpo Elétrico — que assisti durante uma das duas únicas sessões que aconteceram em Juiz de Fora. A obra, de Marcelo Caetano, me lembra a vontade genuína de Glauber em criar algo instigante que, mais do que compreender, ousa nos convidar a sentir. Na escuridão das fileiras vazias daquele cinema de rua alemão, reafirmei o quão surpreendentes e fascinantes são estes espaços que ainda incentivam a diversidade e a experimentação. Depois de viver sete anos perto do último cinema de rua de Juiz de Fora, nunca me senti tão perto de casa mesmo estando tão distante.

Metropolis

Metropolis, Passau, 2019

ProLi

ProLi, Passau, 2019

Regina

Regina, Regensburg, 2019

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