Por memórias de Cinema de Rua
Continuo fechado com minhas posições de um cinema terceiro-mundista. Um cinema independente do ponto-de-vista econômico e artístico, que não deixe a criatividade estética desaparecer em nome de uma objetividade comercial e de um imediatismo político.
— Glauber Rocha, diretor
Glauber Rocha me ensinou que o Cinema Novo tinha potencial para ser um cinema nacional que não fosse puramente comercial. Um lugar de arte, experimentação, transformação e liberdade. Cada diretor com sua visão única, criando um espaço de resistência às fórmulas predeterminadas e óbvias de Hollywood.
No entanto, tornou-se cada vez mais difícil encontrar expressões de vontade semelhantes, especialmente com o crescente domínio das principais produções norte-americanas no Brasil. A experiência cinematográfica foi transformada, deslocando-se para os grandes centros comerciais, e os cinemas populares e as produções locais foram colocadas em segundo plano pelos blockbusters. Apesar disso, alguns locais de encontro com o desconhecido ainda resistem.
Na minha busca por um desses lugares em Passau, pequena cidade na fronteira entre Alemanha e Áustria, tive a sorte de encontrar um cinema de rua exibindo o filme brasileiro Corpo Elétrico — que assisti durante uma das duas únicas sessões que aconteceram em Juiz de Fora. A obra, de Marcelo Caetano, me lembra a vontade genuína de Glauber em criar algo instigante que, mais do que compreender, ousa nos convidar a sentir. Na escuridão das fileiras vazias daquele cinema de rua alemão, reafirmei o quão surpreendentes e fascinantes são estes espaços que ainda incentivam a diversidade e a experimentação. Depois de viver sete anos perto do último cinema de rua de Juiz de Fora, nunca me senti tão perto de casa mesmo estando tão distante.
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